A oficina A Volta ao Dia em 80 Mundos chegou à Escola Municipal Ayrton Senna dez horas da manhã. O sol estava a pino e
ficamos bem pertinho dele, no alto do Morro do Estado, em Niterói. A
expectativa era imensa. No portão, fomos recebidas por um homem muito simpático.
Na parede de entrada, recortada em papel colorido, a delicada frase: “bom dia, sejam
bem vindos!” Ficamos felizes com a amável recepção, agradável sensação de estar
em casa. O lugar é bastante acolhedor. As crianças incríveis, divertidas e
inteligentes.
A
oficina começou com a história A Moça Tecelã, de Marina Colasanti. Minutos
antes, a contadora de histórias, Thatiana Verthein, na verdade Madame Tormenta
Furtacor, ilustrou o que é um tear. Usou como exemplo fios do próprio cabelo. O
mais inusitado foi quando perguntou se alguém sabia o que era uma lançadeira.
Veloz, um menino respondeu: “é um negócio que joga de um lado para o outro para
passar os fios”. Madame Tormenta pensou que ela não seria tão sagaz na
resposta. E o menino completou que sua avó usava um tear. Percebemos que o tear
e seu tapete mágico, universos fantásticos, príncipes, castelos, sonhos e
jardins encantados fazem parte da vida deles. E que mesmo nesse mundo aterrador
em que para muitos ser sonhador é um defeito, encontramos na Ayrton Senna,
crianças criativas e inspiradas.
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Madame Tormenta Furtacor passando o delicado traço cor de luz sobre os fios estendidos |
Durante a história saborearam uma áurea de encantamento, olhinhos
arregalados de atenção reuniam todos os fatos que eram, que são, que serão...
Ao final, o diálogo acerca da narrativa gerou frutos proveitosos. Uma
menina, com naturalidade, fez uma análise bastante complexa: “tudo que a moça
tecelã tecia virava realidade, ela fez um marido. Ele era muito exigente, então
ela desfez o tecido.” Ficamos perplexas com os questionamentos e associações de
pessoas tão pequeninas. Outra menina disse: “ela devia ter feito um gato ao
invés de um marido”. No decorrer da conversa, percebemos que não fomos ensinar
nada e sim, compartilhar saberes com aqueles alunos do 4° e 5° ano; pequenos
gigantes.
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Madame Tormenta desenhando a linha do horizonte com a claridade da manhã |
Depois das veementes impressões acerca
da narrativa, a artista plástica Bianca Madruga propôs a atividade. Assim como
a Moça Tecelã, cada um também pode tecer a sua própria história com fios e
cores de contentamento. A vida é um tapete de retalhos, cheia de amor, entrega
e desencanto, desejos e dúvidas... E se, por algum motivo, não gostamos do
nosso tapete, sempre há a possibilidade de tecer um recomeço com traços
ensolarados de beleza e poesia.
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Bianca Madruga mostrando um dos jeitos (a forma de fazer é livre) de criar a invencionice |
Bianca
pediu que os alunos fizessem um autorretrato no tecido, algo que teceriam para
a vida deles, qualquer coisa que gostariam de ter, imaginar, vivenciar. Algo
sensível, interminável, maluco, atroz, poético... Então, um menino perguntou se
poderia tecer sua invenção: a mão mole. Achamos aquilo fantástico e repaginamos
o conceito, agora não teceriam mais o autorretrato, mas uma invencionice.
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Bianca entregando o material |
Estavam
ansiosos para criar a invencionice. Enquanto isso, o livro da escritora Marina
Colasanti passava pela sala, conquistando a todos com sua surpreendente ilustração
feita com bordados das irmãs Dumont, Ângela, Martha, Marilu e Sávia e da mãe,
Antônia, sobre os desenhos de Demóstenes Vargas; Global Editora.
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O livro costurando sorrisos carinhosos |
Fizemos
uma pequena pausa para o almoço às 11h20, até porque ninguém é de ferro e de
barriga fazia não dá para pensar direito. Porém, teve gente que quase abdicou
do almoço para se concentrar na atividade. Acho que nunca tivemos participantes
tão empenhados. Dá-lhe Ayrton Senna, já entendemos que esse nome não foi por acaso.
Satisfeitos
e animados, retornaram à sala para começar a brincadeira. Estavam seriíssimos e
compenetrados, nem ousamos chamar de outra coisa a não ser de trabalho, empenharam-se
feito verdadeiros artistas. Primeiro, analisaram os exemplos inventados pela
Bianca, a máquina de fazer nuvem e a máquina de fazer arco-íris, à direita.
Repletos
de desenvoltura, delicadeza e vontade implacável teceram figuras
impressionantes. Tudo isso com deliciosa dose de diversão.
Faziam
como a Moça Tecelã, com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida. Ficamos
assombradas com o resultado, uma obra de arte passível de ser exposta em
qualquer museu do mundo. Plena manifestação de arte contemporânea!
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Invencionices Entrelaçadas |
Folheando as Invencionices
O
Livro Invencionices Entrelaçadas foi criado com a costura do trabalho dos alunos.
O Livro das vidas entremeadas. Sonhos e linhas traçadas que pela magia do
querer tornam-se realidades.
Costurando
Invencionices
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A Terra por Ricardo Carvalho |
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Casa por Cailane |
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Coração Apaixonado por Jamile |
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Flor por Maria Noeli
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Fiz uma casa por Sávio |
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Bicicleta por Lucas
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Sol por Marlon |
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A Tempestade por Geovana |
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Carro sem porta por Luiz Felipe |
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Casa por Thamiris |
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Flores por Ana Júlia |
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Máquina de fazer neve por Daniel |
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João Victor (s/ título) |
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A janela que sai minhoca por Valquíria |
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Casa menino na Lua (s/ nome) |
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Mão Mole (s/ nome) |
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Máquina de bola por Graciene |
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Robô para ninguém entrar no quarto por Isabella |
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Quadrado por Tamara |
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Casa por Yan |
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Roger (s/ título) |
Invencionices de gênios desapegados.
O
encontro foi lindo! As crianças são muito doces. E lançaram sobre nós uma
energia intensa de afeto, ficamos inebriadas. Quando fomos embora, andando pela
rua, sentimos que as pessoas nos olhavam diferente, tinham um ar suave,
refrescante... Ou éramos nós que estávamos diferentes?
O
Projeto A Volta ao Dia em 80 Mundos gostaria de fazer um agradecimento especial
à coordenadora Rosane pela afabilidade, à Diretora Cristiane Rose Jeronymo da Escola Ayrton Senna pela
confiança depositada em nosso trabalho, à coordenadora Solange que nos recepcionou com carinho acolhedor em nossa passagem,
às dedicadas e amorosas professoras Rosimeri (4°ano) e Nilsea (5°ano). E dizer
a professora Nilsea que ficamos emocionadas quando ela nos disse, com olhos
brilhantes, que demos muito carinho e atenção para as crianças e que elas
estavam muito felizes. E, principalmente, ao Clube Naval por viabilizar a implementação do Projeto e possibilitar o desenvolvimento da oficina em escolas públicas.
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